O aumento da expectativa de inflação - por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia - que, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central, subiu um ponto percentual em apenas quatro semanas, passando de 5,5% para 6,45%, está pesando no bolso dos brasileiros.
A aceleração inflacionária tem obrigado as famílias a concentrarem seus gastos em itens essenciais, com destaque para alimentação e energia, adiando outras despesas. Dessa forma, a compra de material de construção no varejo pode estar entre a mais prejudicada. Os efeitos da escalada inflacionária estão refletidos nos resultados desta edição do Termômetro Anamaco, pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e divulgada pela Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Os resultados do estudo relativos a fevereiro revelam que as vendas no varejo de material de construção esboçaram reação após a queda sazonal que durou até janeiro. As indicações de alta no mês corrente passaram de 15% para 17%. A pesquisa indica que o elemento de alerta vem da comparação anual. Em fevereiro de 2021, esse indicador havia sido de 45%.
Em sentido inverso, os varejistas que apontaram queda nas vendas de fevereiro passaram de 49% para 37%. Mas a comparação anual exige novamente atenção. Há um ano, o mesmo indicador havia sido de 30%.
Apesar de pequena, a melhora na percepção de vendas correntes em fevereiro veio com um impulso, ainda maior, no otimismo quanto às vendas nos próximos três meses (março a maio). A parcela de varejistas que espera alta nas vendas nesse período chegou a 60% dos participantes da pesquisa, contra 53% em janeiro.
De acordo com a FGV, é possível associar esse comportamento do indicador ao nível mais baixo das vendas correntes, mas também à expectativa de volta ao padrão sazonal típico do varejo de do setor, com melhora do faturamento na passagem entre o primeiro e o segundo trimestres do ano.
Em todas as regiões e no País como um todo, o sentimento de vendas estáveis foi assinalado por mais de 40% dos participantes da pesquisa. Ao mesmo tempo, as assinalações de queda superaram as de alta em 20 pontos percentuais. Apesar de fevereiro ser um mês tipicamente fraco para o varejo em geral - e as vendas de material de construção não são exceção -, o nível de assinalações de alta ficou bem abaixo do registrado no mesmo mês de 2021. Naquele momento, 45% das respostas apontavam alta nas vendas, nível 28 pontos percentuais superior ao registrado em fevereiro passado. A aceleração inflacionária recente está entre as principais causas por trás desse quadro de relativo pessimismo.
Em nível regional, as maiores parcelas de indicações de alta ficaram por conta do Centro-Oeste e do Norte, únicas duas regiões em que o indicador ficou acima da média nacional. No outro extremo, a maior indicação de queda ficou por conta do Sul (41%), seguido do Sudeste (37%).
O levantamento revela, ainda, o otimismo quanto às vendas nos próximos três meses. Em nível nacional, as assinalações de alta passaram de 53% em janeiro para 60% em fevereiro e apenas 8% disseram esperar queda. Em fevereiro de 2021, as assinalações de alta e de queda esperada nos meses à frente foram de 54% e 18%, respectivamente. Com isso, diferença entre assinalações otimistas e pessimistas passou de 43 pontos percentuais para 52 p.p. entre janeiro e fevereiro últimos. Já em fevereiro de 2021, esse indicador foi de 36 p.p.
Esse perfil de percepção sobre as vendas futuras foi registrado em todas as regiões, com as assinalações de alta ficando sempre acima de 50%. O mesmo foi observado no recorte por especialidade dos pontos de venda. Os varejistas especializados em material elétrico e em revestimentos cerâmicos se mostraram ainda mais otimistas quanto ao futuro próximo.
Depois da relativa estabilidade registrada em janeiro, o sentimento dos revendedores de material de construção sobre as ações do governo esperadas para os próximos 12 meses registrou ligeira melhora em fevereiro. Os otimistas passaram de 51% para 55% no período, enquanto a parcela de pessimistas caiu de 19% para 16%. Com isso, a diferença entre as duas assinalações subiu de 31 p.p. para 40 p.p.