O varejo de material de construção vem sentido, de forma severa, os impactos da alta na inflação - o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aponta para mais de 12% no acumulado dos últimos 12 meses. Os preços mais altos reduzem o poder de compra da população, que tende a cortar gastos.
Embora as projeções do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) tenham sido revisadas para cima, o empresário do setor segue desconfiado. Nesse cenário, a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), acaba de divulgar o Termômetro da Anamaco, pesquisa realizada com exclusividade pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O estudo mostra que, após altas sucessivas entre janeiro e março, o otimismo dos varejistas de material de construção relativo às vendas correntes apresentou queda em abril. As indicações de alta passaram de 30% para 21%. No mesmo mês do ano passado, esse percentual correspondia a 30%.
No outro extremo, os comerciantes que apontaram queda nas vendas de abril passaram de 24% para 31%. Há um ano, essa parcela era de 25%. Com isso, o indicador de vendas atingiu 90 pontos e voltou ao campo do pessimismo (abaixo de 100, nível que indica neutralidade). Em abril de 2021, mesmo com a alta nos casos de Covid-19 e as restrições ao varejo, esse indicador havia sido de 105 pontos.
Em abril, o indicador que mede as expectativas para os próximos três meses também recuou. Na comparação com março, o índice passou de 145 para 138 pontos. Embora ainda permaneça no campo do otimismo, essa foi a segunda queda seguida do indicador de expectativas que, em fevereiro, estava em 152 pontos. Na análise das entidades, a perda de poder de compra das famílias e o encarecimento do material de construção são as causas mais prováveis dessa piora na percepção dos varejistas.
Tanto em nível nacional quanto regional, a estabilidade nas vendas dominou os resultados do Termômetro de abril. No Sudeste, as assinalações de estabilidade chegaram a 50% e as de queda superaram as de alta em sete pontos percentuais. Somente no Norte e Centro-Oeste a percepção otimista superou a pessimista. Nessas duas regiões foram registradas as maiores assinalações de alta nas vendas correntes. Ainda assim, as respostas otimistas não passaram de 30% do total, índice registrado no Centro-Oeste.
Já otimismo dos varejistas quanto às vendas nos próximos três meses perdeu fôlego em abril. A parcela de indicações de alta recuou frente a março, passando de 53% para 49% em nível nacional. Já as indicações de baixa avançaram de 8% para 11%.
Em termos regionais, as expectativas dos varejistas variaram bastante em abril. Enquanto no Sudeste e no Sul as respostas pessimistas ficaram acima da média nacional, chegando a 14% e 12%, respectivamente, no Norte e Centro-Oeste essas respostas foram de 4% e 2%, respectivamente. Nessas mesmas regiões, as avaliações otimistas foram muito expressivas, chegando a 72% no Norte e a 66% no Centro-Oeste. No Sul e no Sudeste não passaram de 44%.
No Nordeste também predominaram as expectativas otimistas, que chegaram a 54% do total regional de respostas, bem acima da média nacional de 49%.
No recorte por especialidade das lojas, as assinalações de alta nos próximos meses foram maiores no segmento de revestimento cerâmico (59%), seguido de material elétrico (55%). Os menos otimistas foram os especializados em material básico (41%).
Mantendo a tendência registrada em março, o sentimento dos revendedores de material de construção sobre as ações do governo esperadas para os próximos 12 meses voltou a recuar em abril. No mês, 45% dos entrevistados estavam otimistas contra 49% em março. Em paralelo, as assinalações de indiferença permaneceram relativamente estáveis, mas as respostas pessimistas avançaram, passando de 18% para 22%.
Na análise das entidades, como causas desse desempenho do indicador, permanece em evidência a combinação de inflação alta e persistente e a elevação dos juros, ambos fatores com impactos diretos sobre as vendas do varejo do setor, apesar do pagamento do novo Auxílio Brasil.