De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE), o varejo de material de construção encerrou 2022 com faturamento de R$ 207,4 bilhões, o que representa uma alta 2,5% sobre o ano anterior. Descontada a inflação setorial, houve queda real de 10,1%.
Esses resultados, segundo análise da entidade, sugerem que o ciclo de reformas, impulsionado pelo isolamento social gerado pela pandemia de Covid-19, ficou para trás e o desempenho do varejo do setor volta a estar associado à evolução da renda das famílias, sobretudo as de baixa renda, que se dedicam à autoconstrução e à autorreforma.
Nesse cenário, a FGV analisou mais uma pesquisa feita pela Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e revela que, após o choque de outubro e a polarização de novembro, a percepção dos varejistas de material de construção captadas pela edição de dezembro do Termômetro Anamaco voltou a um padrão sazonal típico de final de ano.
Segundo o levantamento, em nível nacional, a percepção de alta nas vendas correntes passou de 23% para 22% na comparação entre novembro e dezembro, enquanto as de queda subiram de 30% para 34%. Com isso, o indicador de vendas no mês atual registrou recuo, passando de 93 pontos para 88 pontos no mesmo período, nível muito próximo ao registrado em outubro (89), sempre abaixo do nível de neutralidade (100 pontos).
Quanto às expectativas para os próximos três meses, as respostas otimistas foram de 41%, enquanto as pessimistas foram de 22%. Em novembro, esses mesmos resultados haviam sido de 34% e 23%, respectivamente. Com isso, o indicador de expectativas para os próximos três meses também registrou comportamento sazonal como esperado, passando de 111 pontos para 119. Apesar de se manter no nível otimista (acima de 100 pontos), o nível do indicador de expectativas de dezembro ficou abaixo do registrado em igual mês de 2021, quando chegou a 126 pontos, o que sugere que os comerciantes esperam uma recuperação sazonal mais modesta das vendas até março.
Como nos dois meses anteriores, a percepção de estabilidade nas vendas predominou em dezembro, tanto em nível nacional quanto regional. A exceção foi o Centro-Oeste, área na qual as assinalações de queda superaram ligeiramente as de estabilidade. Essa última representou 48% das respostas dos varejistas no Nordeste, chegando ao mesmo patamar no Norte, a 42% no Sul e 43% no Sudeste.
Por sua vez, as indicações de crescimento no mês foram sempre as menores, sendo sempre superadas pelas assinalações de queda, exceto no Nordeste, onde foram de 30% e 23%, respectivamente. O maior sentimento de queda nas vendas do mês foi observado no Centro-Oeste (44% das respostas), seguido pelo Sudeste (39%). Em ambas as regiões esse indicador ficou acima da média nacional (34%).
A pesquisa mostra, ainda, que as expectativas dos revendedores de material de construção quanto às vendas nos três meses à frente tiveram sensível melhora em dezembro. Tanto em nível nacional quanto regional, predominaram as assinalações otimistas. A exceção foi o Nordeste, área na qual as expectativas de crescimento revelaram empate com as de estabilidade nas vendas. A região com maior nível de otimismo foi o Centro-Oeste, onde as indicações de alta futura nas vendas chegaram a 46% das respostas do entrevistados. Nas demais regiões, exceto a Nordeste, as respostas otimistas ficaram sempre acima de 40% do total.
No extremo oposto, as assinalações de queda esperada não passaram de 25% em nenhuma das áreas.
Quando o estudo analisa a loja por especialidade, é possível notar que alguns segmentos estão mais cautelosos, como no caso do varejo de material elétrico e hidráulico e revestimento cerâmico, onde as assinalações de estabilidade superaram as de alta.
No recorte por porte das lojas (número de colaboradores) os mais otimistas quanto às vendas nos próximos três meses foram as de porte maior (entre 50 e 99 colaboradores). Nesse segmento, as indicações de alta nas vendas futuras chegaram a 49%. Por sua vez, tanto pequenos varejistas (um a nove funcionários) quanto os home centers (mais de 99 empregados) mostraram-se mais cautelosos, com expectativas de alta próximas a 35%.
Quanto às ações do governo esperadas para os próximos doze meses foi registrada melhora após o choque registrado logo após as eleições. Ainda assim, as oscilações nos três padrões de resposta foram bastante pequenas em dezembro na comparação com o mês anterior.
A parcela de respostas otimistas voltou a superar a de pessimistas, passando de 32% no mês anterior para 36%. Em sentido contrário, as respostas pessimistas passaram de 34% para 30% no mesmo período.