"Nossas pesquisas não são para nós, são para a realização de intervenções nas cidades". A afirmação traduz a opinião de Edgar Pieterse, professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Capetown, na África do Sul, sobre a necessidade de reconfigurar a dinâmica das pesquisas nas universidades, e alinhá-las a princípios mais práticos. Pieterse ministrou uma palestra no 1º Seminário Internacional do centro de pesquisa USP Cidades, realizado na última quinta-feira (3/10) na Cidade Universitária, em São Paulo.
Além de docente, Pieterse dirige o African Center for Cities (ACC), um centro de pesquisas interdisciplinar que estuda os processos urbanos no continente africano. O desafio proposto pelo ACC, contou Pieterse, é justamente proporcionar o diálogo da universidade com a população. "Precisamos comunicar o que fazemos", afirma. Para isso, o núcleo aposta em sistemas de coprodução, com a participação de representantes do setor privado, acadêmicos, ONGs, movimentos sociais e governantes.
As pesquisas do centro são realizadas por meio de programas que combinam teoria e prática, e incluem temas como cidades sustentáveis, ecologia, mudanças climáticas, entre outros. "O que tentamos fazer é trazer o ambiente acadêmico para o espaço dos laboratórios", explica.
Nos países africanos, o fenômeno da urbanização é muito recente. Nos últimos 60 anos, a população urbana do continente saltou de 33 milhões, em 1950, para 414 milhões, em 2011 - sendo que, desse número, cerca de 200 milhões de pessoas vivem em situações precárias de habitação. De acordo com Pieterse, a maior questão é o caráter segregador como esse crescimento tomou forma. Ele fez uma aproximação com a realidade brasileira, em que muitas cidades também intercalam regiões negligenciadas com áreas mais elitizadas.
Intitulada "Cidade e conhecimento no desenvolvimento do território", a palestra de Pieterse foi moderada por Matthew Shirts, da National Geographic Brasil e do portal Planeta Sustentável, e contou com a participação da arquiteta Elisabete França e dos professores Alexandre Delijaicov, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, e José Goldemberg, da Escola Politécnica (Poli) da USP.